Mais um trabalho liderado por pesquisadores do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade NUPEM sobre aspectos da COVID-19 foi publicado em um periódico científico internacional.
A pesquisa intitulada “Análises espaço-temporais genômicas e moleculares de SARS-CoV-2 na primeira onda de COVID-19 em Macaé, a capital nacional do petróleo” foi publicada na última semana pela revista International Journal of Molecular Sciences. Este estudo teve como objetivo a caracterização genômica do vírus SARS-CoV-2 no município de Macaé, em conjunto com sua associação a aspectos clínicos e moleculares da COVID-19 durante sua primeira onda em 2020.
Neste trabalho, os pesquisadores realizaram o sequenciamento completo de 96 genomas do vírus SARS-CoV-2 que circulavam em diferentes bairros do Munícipio durante os primeiros cinco meses de pandemia. Somado a isto, as amostras foram selecionadas de tal forma que os hospedeiros também apresentassem diferentes quadros clínicos de COVID-19 (sintomas leves, hospitalizados e óbitos).
Segundo a atual diretora do Instituto NUPEM e autora do trabalho, professora Cintia Monteiro de Barros, “o trabalho demonstra a qualidade e dedicação de nossos pesquisadores, alunos, docentes e técnicos que, em momento de crise na saúde, se destacara e deram retorno não somente à população macaense, mas à população mundial, em conhecimento científico e tecnologia de ponta; além de demonstrar como a ciência, o ensino público e de qualidade podem transformar a sociedade em que vivemos.”
De acordo com Bruno Rodrigues, um dos pesquisadores responsáveis pelo trabalho, este projeto é um reflexo de que grandes esforços durante períodos de dificuldade podem gerar bons frutos em forma de conhecimento, e que beneficiam diretamente a sociedade. “Fico muito feliz de poder ter contribuído com minha expertise em benefício da sociedade. Os sequenciamentos realizados neste trabalho, durante o ano de 2020, representam 40% de todas as sequências de SARS-CoV-2 conhecidas na cidade até hoje, estando disponível de forma gratuita em banco de dados para que qualquer pessoa no mundo possa acessar e fazer suas próprias análises. É muito gratificante poder ver como uma rede de colaboração entre o NUPEM e tantas outras importantes instituições pode gerar uma quantidade significativa de boa ciência, e acredito que os frutos gerados sejam motivo de orgulho para todos nós”.
Segundo o professor e ex-diretor do Instituto NUPEM, Rodrigo Nunes da Fonseca, “o trabalho e o esforço de todos os autores foi fundamental para a publicação numa revista de qualidade e de alto impacto. Demonstra também a importância de colaborações, com a participação de professores, técnicos e alunos, não apenas do Instituto NUPEM, mas também do Instituto de Biologia da UFRJ, do Centro Multidisciplinar da UFRJ-Macaé, além de diversas instituições que contribuíram com o financiamento do projeto. Além disso, esta pesquisa proporcionou o estabelecimento de novas tecnologias no Laboratório de Apoio Técnico-Científico de Genômica Funcional do Instituto NUPEM, particularmente no sequenciamento de DNA de nova geração utilizando a tecnologia Oxford Nanopore, que agora pode ser aplicada para outros projetos locais”.
A partir dos resultados, os pesquisadores realizaram uma análise completa sobre a relação filogenética das amostras de vírus SARS-CoV-2 circulantes em Macaé, com outras amostras brasileiras coletadas durante o mesmo período, e também a caracterização das linhagens de coronavírus na cidade ao longo dos meses. Um total de 125 diferentes mutações foram encontradas, sendo 20 destas somente na proteína spike, importante no processo de interação com células humanas para desenvolvimento da COVID-19. Por fim, a caraterização de tais mutações possibilitou que os pesquisadores fizessem uma série de estudos, como a correlação entre o grau de severidade da doença com as mutações estruturais de SARS-CoV-2 encontradas, a caraterização genômica de vírus que não são detectados em testes rápidos de antígeno e a dinâmica molecular de interação entre as amostras com spike mutadas encontradas em Macaé com a proteína humana ACE2.
Este trabalho teve apoio da FAPERJ, Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Justiça Federal de Macaé e Itaperuna, Prefeitura Municipal de Macaé, AdUFRJ, UNIMED Costa do Sol, Irmandade São João Batista, Hospital São Lucas e de médicos do Trabalho da região. O trabalho completo pode ser acessado de forma gratuita em: https://www.mdpi.com/1422-0067/23/19/11497.